Wednesday, December 07, 2005



Viajar -- ou seria voar? Voar, fiquemos com voar -- sempre me pareceu uma experiência cosmopolita. Voando nos tornamos donos do mundo e posamos de importante sem ser. E é como em um episódio de Além da Imaginação: um cochilo e, ao acordarmos, estamos num lugar desconhecido, tudo diferente. Mas falo do lateral e esqueço do principal: só temos olhos para o belo. Aos que não entenderam a conexão, paciência.
A cena requer descrição e, como não sou Proust, feche os olhos para auxiliar na abstração -- ou, por outra: não os feche, continue lendo; aperte-os tão somente! -- Voltemos: estou na primeira fileira (poltrona 1E, para os obcecados por detalhes) olhando de soslaio uma aeromoça (espetacular) que conversava animadamente com o comissário de bordo, um latagão enorme, bombado ao último. Ele lhe explicava como obter água potável numa floresta ou algo do tipo. E ela sorvia suas palavras como um camelo num oásis. Veja bem: aquela mulher não deve ter acampado uma única vez, nem no quintal de casa. Sua maior aventura deve ter sido viajar sem secador de cabelos. Mas ela só tinha olhos e ouvidos para o Aquiles dos ares.
E, depois um tempo, talvez pelo tema da conversa ou pelo ar-condicionado, fui tomado por uma súbita e fulminante sede. Tiro o cinto, estico o braço (sou baixinho) e chamo, através do botão no painel, a aeromoça. Nada. O tema da conversa agora era outro: ela lhe falava que era do Leblon, e malhava não-sei-onde. Fiquei imaginando que, se Jobim voasse Gol, a música seria Garota do Leblon e talvez não fizesse tanto sucesso.
Depois do devaneio, insisti. Ela: "O que deseja?" Eu: "Água". Nem havia fechado a boca e ela já disparava para a frente da aeronave; trazendo, em seguida, uma barra de cereais. Levantei as sombracelhas. Ela nem tchum: voltou para os bíceps. Ora, não sendo belo ou forte, eu era transparente como água e sem graça como uma barra de cereais. É algo conhecido de todos: somos todos uns pavões, o que nos interessa é a plumagem vistosa -- minha vizinha de poltrona, por sinal, exibia uma plumagem rosa no pescoço. Eu, sem nada a oferecer de visual, não merecia nem a gentileza da água! E, por falta de um copinho, perdi a pose, deixei de ser cosmopolita. Era apenas um simples sedento num deserto com asas.
Ofereci a barra para a emplumada ao lado, que a comeu e disse: "Muito seca, me deu sede." Não me surpreendi.

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

tem uma pessoa q eu conheço -- que eu nao quero citar nomes -- que viaja todo dia e também fica com sede depois, mais é por outros motivos aushduashduahsudhasuh

9:58 PM  
Anonymous Anonymous said...

...vc ficou paquerando a Aeromoça?????????....tsc tsc tsc tsc tsc....bem feito....heheheeehhehe

2:51 AM  
Anonymous Anonymous said...

acho q vou aumentar a sencibilidade do meu mouse! tem horas q da mto trabalho percorrer a tela inteira com ele :(

2:56 PM  
Anonymous Anonymous said...

...está na hr de atualizar....

3:01 AM  
Anonymous Anonymous said...

que azar kra... com certeza havia um certo desejo sexual entre as partes (ou pelos menos da parte feminina para a marculina)


não tive muito tempo pra pensar sobre isso de termos apenas olhos para o belo, mas uma coisa que eu sei é que o belo varia muito entre os humanos, assim coisas repugnantes podem bem ser o belo para o qual alguem só tem olhos...

2:09 AM  

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