Não quero nada em específico, quero apenas mais. E nada mais humano que a inconformação: nunca vi um leão frustrado ou uma gazela cabisbaixa. É a derradeira herança genética: querer mais e sempre. E quem há de nos culpar por sermos apenas o bicho que somos? Mas falo do querer quando deveria falar do desejar. E não se deixe enganar pelo dicionário: são coisas bem diferentes. Porque desejo é o querer sem ação, e querer é o desejo com consciência e responsabilidade.
E nesses últimos dias meus mais inespecíficos desejos se materializaram em algo etéreo, onírico e, -- por que não? -- singelo: tudo o que quero agora é dormir. Ou melhor: dormir bem. Sou acompanhado por uma insônia perene, que me segue como um cão ao dono. Já me disseram: "toma umas que você dorme". Ora, eu poderia beber todas e não teria sono. Morreria e não teria sono. Seria, olhe só, um morto insone! Há quem diga que reclamo demais e para esses eu replico: sim, e nada mais humano!
Note que poderia justificar todas minhas idiossincrasias assim: como não sou leão, gazela ou ET, posso querer tudo e reclamar sempre. E eis que lhes entrego, de bandeja, a mais inconstestável justificativa para qualquer coisa: ser humano!